domingo, 19 de dezembro de 2010

Novidade

Art manteve sua mão unida a minha e observamos a sua família seguir pela via, dentro do carro. Prosseguimos em direção ao Centro Comunitário, o silêncio era o nosso companheiro. A tensão entre nós era palpável, os nossos olhares pouco se cruzaram, o entrelaçar dos nossos dedos era eletrizante e estimulante. Eu estava apreensiva e evitava fixar meus olhos em suas íris azuis.


Paramos em frente ao ringue de patinação. Exatamente como em meu sonho, Arthur se posicionou a minha frente mantendo o contato, segurava o meu punho emitindo sua força com suavidade e delicadeza. Eu ansiava pelo nosso primeiro beijo, entretanto seu comentário ao soltar a minha mão lentamente, foi sobre seus pais provavelmente já estarem em casa.


Aparentemente ele estava hesitante para expressar o seu anseio, após avaliar a inquietude em meu semblante, o declarou: “Anjo, você corresponde aos meus olhares, meus sorrisos e carinhos... Eu não vou conseguir me segurar mais, preciso saber se é isto o que você quer. Se está pronta para um relacionamento comigo? Se você já esqueceu o Evandro?”


Fui honesta, eu não havia o esquecido. Foram sete meses, mais o tempo de conversas pelo telefone. De alguma forma, ainda estava envolvida com o ex-namorado. Art não apreciou minha primeira assertiva e resolvi complementar: Meus sentimentos por você são muito intensos, me sinto compelida a estar ao seu lado. Parece haver uma espécie de cumplicidade do Universo para nos unir!


Ele sorriu para mim timidamente e perguntou: “Anjo, isto está me parecendo um sim... Você está disposta a ir além da amizade?” Embora estivesse encabulada, meu desejo era evidente. Estava completamente ansiosa por um beijo, no entanto ele queria saber dos meus sentimentos conturbados. Precisava encontrar seus lábios para esquecer ou lembrar, descobrir ou perder, qual era a verdadeira essência do nosso relacionamento.


Arthur se aproximou, me deu um suave e terno beijo na boca, como se testasse até onde poderia avançar comigo. Eu fiquei assustada com a intensidade das emoções a assolarem meu pobre coração. Uma música nova surgiu inteira na minha mente. Podia ouvir cada acorde naqueles segundos eternizados pelo contato dos nossos lábios. O amor nos envolvia tornando tudo irreal, inacreditável e ao mesmo tempo tudo se encaixava perfeitamente!


Quando se afastou, eu mal conseguia acreditar no que aconteceu entre nós. O clima de romance e novidade no ar, a excitação do primeiro beijo, não passavam. Eu queria sentir isso por toda a minha vida! Havia sonhado com este momento, porém a sensação foi muito mais vívida. Nunca imaginei compor uma música inteira, receber toda esta dádiva durante um suave roçar de lábios.


Art não esperou muito para eu assimilar toda a experiência, me abraçou e beijou profundamente. Eu continuava a ouvir o som do violino, a mesma música única e maravilhosa. Um dia espero conseguir tocar, pois o nosso amor vibra através deste som. A nossa composição.


Busquei por seus olhos afetuosos, refletiam o mesmo brilho dos meus, como se estivéssemos na mesma sintonia. Sem titubear, perguntei se ele a havia escutado. Em seguida refleti, ele não poderia ouvir os mesmos acordes, provavelmente vai imaginar ser um devaneio meu. Todavia acariciou o meu rosto e disse: “A música mais vibrante e plena de amor que escutei em toda a minha vida. Tinha o som do seu violino. Era perfeita, como você, anjo!”


Eu mal pude acreditar! Esta sintonia entre nós superava quaisquer expectativas. Eu não esperava encontrar tamanha completude com uma única pessoa, uma mistura tão profunda de emoções. Elas fluíam como ao entrar em contato com a música, eu sentia excitação e paz, euforia e harmonia, paixão e amor. São tantas sensações complexas e não tenho as palavras corretas para descrevê-las.


Arthur percebeu a intensidade dos sentimentos fluindo pelo meu ser e acredito ter acontecido o mesmo com ele. Compartilhar o mesmo ar, ouvir o som da sua respiração, sentir seu perfume, sua presença marcante e irresistível. Eu ansiava por sentir meu corpo de encontro ao seu, a textura dos seus lábios e o sabor de seus beijos. Queria ter certeza de tudo ser real, eu não poderia ter imaginado emoções tão profundas e intensas. Precisava assegurar-me de ouvir novamente a nossa música.


Ele me olhou com ternura e alegria, todavia me segurou com muita firmeza, como se soubesse da fraqueza das minhas pernas. Meu coração batia forte e acelerado, assim como o seu. O local deserto proporcionava a possibilidade de escutar os dois músculos em arritmia e uníssono. Nossos corpos pareciam unidos na mesma sinergia, embora minha mente vacilasse diante desta descoberta.


Arthur me abraçou mais forte e ficou só na ameaça do beijo. Eu estava completamente inebriada com seu perfume e o calor dos seus braços a me envolver. Estava sedenta por encontrar sua boca, para deter o turbilhão de sensações devastadoras a percorrerem o meu ser. Entretanto, ele era mais resistente e ficou nesta brincadeira, por segundos eternos.


Quando finalmente nossos lábios se encontraram, os acordes da nossa música tocaram ainda mais vibrantes e nítidos em minha mente. Eu me entreguei completamente àquele momento, sabendo estar irremediavelmente ligada ao Art. Sejam quais forem os nossos destinos, eles estavam conectados por uma rede muito bem elaborada e intrincada.


Afastamo-nos para sorver um pouco de ar, parecia impossível manter a respiração enquanto sentia o sabor e o calor da sua boca. Por fim, comentei sobre a importância de nos beijarmos muitas vezes mais, só assim eu poderia tornar real aquela composição magnífica em meu violino. Arthur imediatamente declarou: ”Por toda a eternidade, basta você querer, anjo!”


Era tarde quando resolvemos voltar para casa, após muitos beijos trocados ao som perfeito do nosso contato. Um sorriso congelado se mantinha em meu rosto, tamanha era a minha felicidade e o Art parecia indeciso entre segurar minha mão ou tomar meus lábios novamente. Por fim ele envolveu meus ombros protetoramente com seu braço, eu agarrei firme a sua cintura e caminhamos assim por todo o percurso.


Conduziu-me até o meu quarto, parando em frente à porta. Ele acariciou o meu rosto e perguntou: “Diz para mim, isto tudo é real? Estamos realmente juntos? A partir de hoje você é oficialmente a minha namorada, o meu anjo?”


Eu gelei por ouvir tudo aquilo de maneira tão inusitada. Entretanto não havia nenhuma dúvida, eu realmente era o seu anjo, assim como ele era o meu. A esta altura eu tinha certeza de nunca ter me sentindo tão completa. A traição do ex-namorado naquele instante parecia ter acontecido há meses atrás e não apenas há dois dias. Meu ser era por inteiro do Arthur.


Após ouvir minha resposta, ele se aproximou e me abraçou com os olhos fixos em meus lábios. Estava ansiosa por mais um beijo e por muito mais. Tudo estava acontecendo entre nós com muita intensidade e rapidez, eu desejava passar a noite em seus braços. Porém não tinha ideia de como agir, uma apreensão repentina deixou-me hesitante.


Quando o Art me beijou, me esqueci por completo do receio momentâneo. Os acordes do violino vibravam em mim por inteiro, como se meu próprio corpo, todo o meu ser pudesse tocar a música e sabia, eu devia entregar-me completamente àquele instante. Perguntei a ele se queria entrar. No meu convite sutil estava implícito, pelo tom adocicado da minha voz e meu corpo quente em seus braços, minha real intenção.


Ele ficou sem graça, nunca o imaginei reagindo desta forma. Contudo confessou: “Anjo, eu te amo, idolatro o chão por onde passa, eu desejo muito estar com você e dormir ao seu lado. Porém acredito que você tenha me oferecido muito mais. Eu quero aceitar, mas não posso. Preciso ter certeza de que amanhã, você não vai estar arrependida. Eu não poderia suportar isso!”


Eu o abracei e disse ter certeza sobre meus sentimentos serem reais, não iria arrepender-me de nada na manhã seguinte, só de não acordar ao lado dele. Mesmo assim ele se afastou e me deu boa noite. Entrei no cômodo tentando entender o que havia acontecido. Ele ao menos poderia ter entrado, para dormir ao meu lado. Meu sentimento por ele era de amor verdadeiro e me ressenti por não estar em seus braços, pelo seu afastamento.


Preparava-me para dormir, quando a porta se abriu novamente. Art entrou com aquele seu jeito lindo de me olhar! Meu corpo vibrou por antecipação, ele havia mudado de ideia e parecia decidido a passar a noite ao meu lado. Sem falar nada ele me puxou para os seus braços e eu nem titubeei, praticamente me atirei de encontro ao seu peito!


Ele me fitou intensamente e me perdi em suas íris azuis, no seu perfume e no calor de seu corpo junto ao meu. Não sei se foram segundos, minutos ou horas. Foi completo e eterno o amor a transpirar de nossos corpos, a energia vibrante circulando entre nós e nossas mentes sintonizadas. As palavras eram completamente desnecessárias e inúteis. Algo muito maior nos unia.


Quando finalmente ameaçou beijar-me, inclinando meu tronco para trás e me levando para baixo, acordei. Percebi sermos um homem e uma mulher sedentos por saciar nossa sede de afeto e carinho. Eu estava explodindo com o desejo de tocar seus lábios com os meus, de trazer nossa união para o plano físico, sentir o seu corpo como parte do meu.


Ao nos beijarmos, a música voltou, a cada toque dos nossos lábios, se tornava mais clara e nítida. Se continuar assim, vou compor um concerto inteiro! Nem ouso imaginar como será quando fizermos amor. Em meio aos meus devaneios caímos em cima da cama, nós estávamos muito envolvidos pelo momento, afoitos para mantermos o som vibrando em nossas mentes. Desesperados para continuarmos conectados como um só ser, mais inteiro, forte e pleno.


Arthur parecia estar testando os meus limites, pois pressionou novamente seu corpo de encontro ao meu e me beijou com ansiedade, como se o dia de amanhã não existisse! Eu aproveitei para tirar sua blusa, enquanto nos beijávamos e quando percebeu o que eu estava fazendo, me ajudou.


Finalmente ouvi sua voz rouca e quente em tom de súplica: “Anjo, assim você me deixa sem chão! Eu nem sei se fiz bem em vir aqui, mas precisava estar junto de você, como do ar que eu respiro!” Art não tentou tirar a minha blusa, então eu mesma a tirei, me sentando sobre o colchão. Queria demonstrar o quanto eu estava pronta para ele, sem fantasmas, sem medos, sem culpa ou arrependimentos.


Eu não tinha mais dúvidas, só uma certeza: eu o amava e era amada! Ele nunca me viu com roupa de baixo, e consegui chamar sua atenção. Acabou por me puxar para perto e a me beijar de leve. Entretanto, só ouvi o primeiro acorde de nossa música. Arthur ainda estava hesitante e eu não compreendia suas motivações.


Afastou-se rapidamente, parecia constrangido. Tive receio de ouvir outro “boa noite”. Até ele falar de supetão: “Eu tenho algo a confessar, anjo. Sou mais novo que você oito meses. Nunca lhe contei com medo de você me rejeitar, eu sou totalmente inexperiente com as mulheres.” Deitei-me atordoada com sua confissão e ele me seguiu, puxando-me de encontro ao seu corpo, ainda temeroso.


Nunca imaginei sua idade e juventude, ele é sempre sério e centrado, aparentando maturidade. Porém o meu maior espanto foi a palavra usada: “inexperiente”. Ele completou meu pensamento: “Nunca estive com uma mulher antes. E... Não gostaria de apressar as coisas, quero me sentir seguro de que você é totalmente minha, vou entender se você não me quiser ou resolver procurar alguém com mais experiência...”


Não o deixei completar a frase, eu o amava e não queria nenhum outro! Se ele estava inseguro eu podia esperar e compreendia muito bem. Os papéis pareciam se inverter, alguns meses atrás era eu a me sentir insegura com a minha primeira vez! Tive uma sensação de reconhecimento. Eu precisava realmente ter um envolvimento com outro antes dele, tudo parecia fazer ainda mais sentindo para mim. Como se nossa história estivesse escrita a ouro por cima do lápis a rascunho. Só precisávamos apagar o grafite.


Art ficou mais confiante e me trouxe para perto, eu não poderia mais pressioná-lo, no entanto desejava ao menos dormir ao seu lado esta noite. Ele não se recusou, até mesmo por que não conseguia se afastar de mim. Estávamos entorpecidos por esta necessidade premente de ficarmos juntos.


Quando nos deitamos, falei: Amo você! Eu tentei negar, me afastar, rejeitar esta ideia. Mas estar com você, abraçar você, sentir seu coração bater forte quando estamos juntos, me mostrou como é o verdadeiro amor! Depois do meu desabafo, relaxei em seus braços e me lembro apenas de me sentir respeitada, protegida e amada. Arthur me ensinou que eu mereço o melhor e posso ter o melhor: o meu próprio anjo!


O aroma de eucalipto e pinho impregnavam minha pele e narinas, graças ao seu braço firme enlaçando meus ombros durante toda a noite. Sonhei com ele constantemente, seus olhos azuis límpidos e claros me olhando com paixão, amor, desejo e docilidade. Uma mistura muito agradável de sentimentos, tanto intensos quanto puros e verdadeiros.


Acordei, com ele me abraçando na cama. Um abraço tão forte como se eu não fosse real, como se estar ali comigo fosse algo difícil de acreditar. Eu não queria levantar-me, desejava aconchegar-me ainda mais sobre o seu peito, sentindo o calor de seus braços e do primeiro sol de primavera a nos envolver com seus raios incidentes.


Ficamos muito tempo deitados inebriados pelo contato dos nossos corpos. Eu ainda estava entorpecida pelas sensações deliciosas da noite anterior, após sua confissão. Tentava relembrar cada acorde de nossa música, resistindo a beijá-lo novamente. Entretanto estava tarde para ficar enrolando na cama, nós tínhamos aula.


Quando nos levantamos, Art reparou na minha seminudez, ficou admirado e embevecido. Eu fiquei embaraçada com sua observação, nunca tive problemas em exibir meu corpo, porém ele parecia nunca ter visto um par de seios desnudos antes. Meu anjo não demorou a demonstrar sua apreciação. Agarrou-me com mais força que o normal e eu me atirei ao seu encontro.


Tentou-me com seus avanços, apenas na ameaça de um beijo. Praticamente me punindo por minha displicência e incapacidade de perceber o quanto o meu corpo nu poderia deixá-lo em total descontrole. Durante a noite eu retirei a peça incômoda, deveria ter colocado o sutiã novamente ao levantar-me, todavia achei natural acordar com o peito descoberto, como ele.


Ao primeiro toque dos nossos lábios, notei o quanto eles estavam famintos. Arthur ficou ainda mais estimulado ao me observar. Eu poderia seduzi-lo facilmente. No entanto não quero fazer isto com ele, embora me sinta tentada. Ele deve decidir por si mesmo e eu apoiá-lo, demonstrando dia a dia o meu amor.


Aquela brincadeira de beija e se afasta durou um bom tempo. Convidei-o para um passeio no parque, após nossas aulas, o tempo estava perfeito no primeiro dia da primavera. Eu precisava sentir a luz de sol no meu rosto, acordar e ter certeza do nosso amor ser tão ideal e pleno quanto parecia. No fundo do meu ser eu acreditei: o sol se abriu para nós!


Tomei meu banho sentindo um enorme alívio em meu peito. A dor causada pelo Evandro foi tão superficial quanto o nosso amor. Nosso envolvimento era repleto de paixão e desejo, e nada mais. Como toda jovem romântica eu me apeguei ao primeiro homem em minha vida. Entretanto, não havia como comparar as sensações despertadas pelo Art. Tudo com ele é puro, verdadeiro, intenso, isento de culpas e dúvidas, minha preocupação é apenas por ele ainda se sentir inseguro.


Quando voltei da aula, encontrei o Arthur me aguardando. Eu me atirei em seus braços para outro beijo! Surpreendentemente a nossa música não parava de tocar. Tenho até receio de um dia ela cessar. Por fim nos afastamos e ele comentou: “Nem sei mais se quero passear no parque ou atirá-la sobre a cama.”


Eu fiquei chocada com sua declaração, ele riu e completou: “Anjo, seu olhar foi impagável! Eu não tenho a pretensão de fazer mais nada que lhe dar beijos até morrermos sufocados!” Saímos animados em direção ao parque, nas proximidades do nosso alojamento, poderíamos relaxar sob o sol e sentir o perfume das flores da primavera. O dia estava radiante, eu estava radiante!


Ao chegarmos, Arthur parecia fascinado com o calor e o brilho dos raios a iluminar sua pele. Sempre comentou comigo sobre não estar acostumado a um inverno tão intenso. Eu não compreendia seu incômodo, vivi em Colina Formosa praticamente por toda a minha vida e aprecio tanto o inverno quanto a primavera e o outono. No entanto, observando seu deslumbramento entendi finalmente a sua dificuldade de adaptação.


Estávamos nos preparando para dar uma caminhada pela relva, quando a Madu nos abordou. Eu teria uma terceira opinião sobre o acontecimento de sexta, confiava em seu discernimento. Era incômodo ser motivos de fofoca, independente dos meus sentimentos pelo ex-namorado. Não suportaria ver as pessoas comentando sobre mim, rindo e zombando, como durante a minha infância e adolescência. Não queria sentir-me rejeitada novamente!


A minha amiga me abraçou e eu comecei a relaxar, sua atitude demonstrava seu anseio por me confortar. Antes mesmo de me soltar, perguntou se eu estava bem e eu respondi afirmativamente. Desculpou-se por sobre não saber nada sobre as traições do Evandro, pois ficava pouco tempo em seu dormitório. Eu a compreendia, Maria Dulce prefere passar seus dias no estúdio tocando piano e interpretando os grandes compositores clássicos.


Não satisfeita, continuou dizendo estar chocada com a atitude da Francisca, ela tinha saído há pouco do alojamento e a viu consolando meu ex-namorado. Ele estava desolado e triste. O que não entendia, assim como eu, era o motivo da nossa amiga estar prestando solidariedade ao sujeito, afinal os dois nunca esconderam sua divergência mútua.


Olhei para ela, intrigada com a amizade repentina entre eles. Entretanto, não me interessava mais por qualquer coisa relacionada a ele, tudo parecia fazer parte de um passado distante. Contudo meus olhos se abriram, não havia nenhum comentário maldoso a meu respeito. A Francisca mentiu para mim?!


Madu expôs meus pensamentos, questionando: “Será que a Fran está interessada no Evandro?” Olhamos uma para outra tentando decifrar esta charada. Incomodava, não o possível interesse da nossa amiga no sujeito e sim a sua tentativa de me enganar, não poderia confiar em nenhuma de suas palavras. Lembrei da afirmação do Reynaldo na manhã passada: “Eu percebi uns olhares dela para o Evandro, muito antes do seu namoro.”


Minha amiga teve a comprovação da minha rápida recuperação. Antes de nos despedirmos não escondi nada e a apresentei ao Arthur: Meu namorado, o Art, já comentei sobre ele com você antes... Ela leu nas entrelinhas e percebeu o motivo da minha tranquilidade, poucos dias depois de um rompimento traumático. Ao se despedir comentou sobre, no fim, tudo acabou da melhor maneira possível para mim. Ela tem toda razão!


Sozinhos, resolvemos sentarmo-nos na grama e conversarmos perto do lago, aproveitando o calor aconchegante do sol de primavera. Após escolhermos um local acolhedor, meu anjo demonstrava apreensão e inquietude. Finalmente perguntou: “Você não está preocupada com o sofrimento do Evandro? Com esta história da Francisca?”


Ele merecia uma resposta sincera: Não fiz nada para ele, foi o sujeito quem escolheu beijar outra mulher! Se está sofrendo, não é mais problema meu. O meu namorado sorriu aliviado. Quanto a Francisca, me chateava descobrir suas mentiras e da impossibilidade de considerá-la uma amiga confiável. Contudo não desejava pensar muito sobre o assunto.


Por isso eu complementei: Estou feliz demais hoje, não quero estragar este dia lindo ao seu lado pensando em coisas tristes. Ele entendeu o recado, me puxou de encontro ao seu peito e caímos deitados na grama. Uma alegria contagiante tomou conta do meu ser! Arthur parecia tão feliz quanto eu.


Ficamos ali, trocando carinhos e apreciando aquela linda manhã de primavera, o perfume das flores, a luz do sol sobre os nossos corpos. Até o gemido do meu estômago anunciar aos quatro ventos a minha fome, devido a falta do desjejum. Preocupado comigo, Arthur me fez levantar e voltamos para o alojamento.


Depois de um almoço reforçado, resolvi transportar a nossa música para o violino. Transformar em realidade os acordes celestiais que ouvíamos tão nitidamente durante nossos beijos. Arthur ficou ao meu lado prestando atenção, com tanta dedicação quanto a minha, ao executar o nosso som.


Quando eu errava alguma nota ele me orientava, cantarolando o trecho ou tentando decidir se o erro não era apenas um semitom e não uma nota. Algumas vezes, nenhum de nós conseguia lembrar um acorde e acabávamos por tocar nossos lábios, só para relembrar. Devo assumir, no final, era uma desculpa para nos beijarmos mais vezes... Como se precisássemos disso! Mas foi uma brincadeira muito agradável.


Assim passamos nossas tardes durante a primeira semana da primavera. Dividíamos nosso tempo entre as aulas da universidade, o violino e muitos beijos. Nossas noites continuavam ternas e dormíamos aconchegados um ao outro. Na sexta-feira, Art pediu desculpas por não poder me acompanhar na prática àquela tarde. Havia marcado um encontro com a irmã.


Eles iriam ao Spa e me perguntou se eu queria unir-me a eles. A princípio fiquei um tanto reticente, perguntei se iria somente a Júlia ou mais alguém da família. Percebendo meu desconforto, ele sorriu e disse que mais cedo ou mais tarde eu seria convidada a casa de seus pais e esperava minha aceitação ao convite. Mas  iria encontrar somente a irmã, naquela tarde.


Feliz, me atirei em seus braços e concordei em acompanhá-lo. Desde quando eu não conseguia pensar em ficar distante dele? Saímos de lá animados, mas me perguntava qual era o motivo da pequena ter marcado com o Arthur no Spa. Ao mesmo tempo apreciava a ideia de passar um tempo com os dois. Eles eram muito apegados e desejava tornar-me amiga da menina.


Ao chegarmos, encontramos a Julinha acompanhada por um jovem moreno de cabelos ruivos e um belo sorriso no rosto perfeito. Fiquei surpresa ao descobrir a menina com um namorado, não deveria, afinal ela é linda e extrovertida! O Art parecia familiarizado com o rapaz e cumprimentou os dois. Fui apresentada ao Henrique, ele também se mudou para a cidade em julho, nas férias de inverno.


A Júlia não conseguia conter sua empolgação e logo me perguntou se eu estava namorando o seu irmão. Eu confessei a verdade um tanto tímida e ela adorou a ideia. Estava realmente feliz, acabou contando o quanto Arthur sofreu durante o meu namoro com o Evandro e tantos outros detalhes dos últimos meses da vida dele. Fiquei envergonhada por estar ávida a ouvir cada palavra, triste por não ter aceitado o seu amor antes e fazê-lo passar por tanto sofrimento.


A pequena finalmente explicou ao Art o motivo de querer encontrá-lo ali: “Mano, faz isto por mim, não aguento mais esta costeleta ridícula e démodé, seu cabelo está ótimo, mas as costeletas não ficam bem!” Eu não diria isto a ele, no entanto concordava com sua irmã, realmente aquelas costeletas são antiquadas, se usasse em outro formato mais moderno, talvez ficasse melhor.


Arthur foi dobrado pela Júlia e acabou aceitando retirá-las, com a condição de não mexerem em seu cabelo. Feliz, a menina nos surpreendeu dizendo ter marcado uma hora para ele no salão. Ao sentar-se na cadeira estava óbvia a sua preocupação, mesmo assim confiávamos na profissional e o deixamos aos seus cuidados.


Enquanto isso, eu e a pequena aproveitamos para olhar as novidades na loja do Spa. Ela me fez um monte de perguntas, inclusive sobre a virgindade do irmão, pois antes de me namorar nunca o viu com ninguém. Ela acreditava ser por causa da sua aparência muito juvenil, ele só se desenvolveu no semestre passado. A garota era uma verdadeira tagarela e eu nem precisei mentir. Acabou esquecendo da pergunta, e claro, não dei reposta alguma.


Quando voltamos para o salão, o Arthur estava barbeado e seu cabelo ligeiramente aparado. Estava lindo sem as costeletas e sem a barba por fazer. Agora eu podia ver o quanto ele era novo. Ele se assemelhava cada vez mais a um anjo, só faltavam suas asas alvas e uma auréola iluminando sua cabeça.


Não resisti e acariciei seu rosto, sentindo a textura de sua pele suave e imberbe. Enquanto isso, sua irmã comentou: “Agora você bem podia comprar roupas mais descoladas, você só usa estas camisas de botão e nem tem um tênis!” Concordei com ela, comentei sobre nossa ida ao parque e ele estar calçado com um sapato social. Ele precisava de um tênis ao menos para usar nos passeios informais. Derretido pelo meu carinho acabou concordando conosco mais uma vez.


Andamos até a H&M, temos sorte por ter uma loja moderna e jovem na nossa cidade. A butique do Spa só atende a clientela feminina. Mesmo em uma marca tão descolada, Arthur conseguiu encontrar uma camisa no seu estilo de sempre. Júlia ficou irritada por ele não lhe dar ouvidos, interferi na discussão e demonstrei meu desagrado pela camisa.


Ele acabou por me ouvir, lhe mostrei umas camisetas mais simples e um jeans mais moderno. Não poderia mudar o seu jeito de se vestir em um único dia. Apenas convencê-lo a adquirir pelo menos uma ou outra peça de roupa informal, para usar na Universidade. Meu namorado estava aberto a algumas mudanças.


Quando ele saiu da cabine eu fiquei impressionada. Art estava ainda mais bonito! Talvez o melhor fosse ele não andar assim pelo campus. As garotas olham para ele com admiração, se o virem mais despojado, podem passar a enxergá-lo como homem. Ele pagou pelas roupas, enquanto sua irmã e o namorado se despediam de mim. Eles ainda iam encontrar uns amigos para patinar no parque.


Antes de sair a Júlia me abraçou e disse: “Estou gostando de ter uma irmã mais velha! Cuida do meu irmão, ele é muito mais sensível do que parece.” Sua afirmação me deixou feliz, recebi sua aprovação e também iniciamos uma amizade. Espero corresponder as suas expectativas. A sensibilidade do Arthur é algo intimidador, afinal somos iguais neste ponto e nem sempre sei lidar com a minha.


Voltamos para a universidade a pé. O dia estava terminando quando passamos pelo parque do campus e o Art perguntou: “Porque a gente não se senta para ver o pôr do sol no lago? Eu costumava vir aqui sozinho nos dias mais quentes e sonhar com o sol de verão!” Aceitei prontamente, ele me levou até o banco com o melhor ângulo e me puxou para os seus braços. Ao nos aconchegamos, o sol estava baixo e ficamos ali, esperando para ver o belo espetáculo da natureza.


Nossa sinfonia tocou durante todo o crepúsculo, não falamos nada, mal respiramos ou nos movemos. A grandeza do que estávamos vivenciando nos conectou profundamente. Nossa quietude surgiu de um consenso mútuo e mudo, para apreciarmos, escutarmos e absorvermos toda a beleza presente. Percebi o quanto era importante para o meu anjo a luz do sol, a felicidade me preencheu por compartilharmos um momento tão especial e pleno.



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10 comentários:

  1. Own *---*

    Mita quando comecei a ler a atuh com essa musica me arrepiei toda... o.O acho q escolha foi perfeita. *-*
    Tão lindo os dois juntos, sera q a Ani consegue mesmo compor toda um concerto? eu nem tenho duvida.. S2
    Foi tudo tão lindo q dificil de escolher a melhor parte.

    Linda a atuh Mita!!

    Bjos ;*

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  2. Atuh linda, linda, linda e linda... s2

    Assim como a Deka, comecei a ler ouvindo a música e me arrepiei inteira, sem palavras! Foi tudo perfeito.

    Obrigada, Mita! <3

    Beijos mil.

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  3. Deh e Carol!
    Fico feliz que gostaram da música com a publicação. Quando estava escrevendo a Anita na primeira vez achei a música perfeita para o casal e me trouxe inspiração para terminar a história.

    Obrigada meninas! Amo vocês!
    bjosmil! *.*

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  4. Uma das atuhs mais maravilhosas que já li, com uma música não menos perfeita. Sabe, essa sintonia entre os dois é algo lindo demais de se ver... Torci tanto por esse momento da primeira vez que li e tb não torci menos agora. Valeu muito a pena reler e reviver toda essa emoção. Obrigada, Mita! Amei cada pedacinho...
    *-*

    ..: Bjks :..

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  5. Ah não consigo ouvir a música Ç.Ç Clico lá e o youtube diz que foi bloqueado por direitos de autor kkkkkkkk

    COntinuando, atu maravilhosa!!!!!! O Art fica cada vez mais fofo, e espantou-me a sua sinceridade!!

    Bjs

    P.S: Adoro a Julinha xD

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  6. Ah pronto fui procurar no youtube e estou a ouvir memso agora é linda! ª.ª

    Vanessa Mae é uma idola pra mim, desde pequena que ouço suas musicas e sempre sonhei vir a ser como ela ª.ª

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  7. Ai que lindoooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooo! Perfeito Mita, muito emocionante! Impossível não se apaixonar pelo Art! Ele é tudo! Ai que sonho!
    Não tenho mais palavras para decifrar!
    bjossss

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  8. Pah,
    Lembro bem do quanto torceu pelo casal, perdi alguns leitores na primeira versão quando o Art entrou na história, mas ganhei você! XD

    mmoedinhas,
    Aqui dá para ver o vídeo. Depois me passa o link que você achou, assim coloco ela aqui, por que tenho alguns leitores de fora do Brasil.
    Art sempre foi muito sincero com a Anita, pela família dele, já deu para perceber que ele é um bom rapaz. A Julinha é fala demais! rsrsrsrsrs
    Eu descobri a Vanessa Mae, quando estava escrevendo a Anita na primeira versão, e pensei: se a Anita fosse real, seria como ela!

    Mile!
    Art é um homem idealizado, mas conheço muita gente que não ficaria com alguém como ele, por ser perfeito demais! rsrsrsrsrsrsrsrsrs

    Obrigada pelo carinho, elogios e presença! Amo vocês!
    bjosmil! *.*

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  9. Não consigo mais não gostar do Art. çç'

    Melsenhor!
    Foi simplesmente adorável.
    Art tem um jeito tão único de ser...

    Mas continuo lamento pelo Evandro.
    Sinto falta do cara dele de ciúme, do seu cabelo verde lindo! çç'

    Adorei a mudança no Art.
    Apesar de que não vejo nenhum problema com o estilo dele de ser vestir.
    Acho até bontinho, pq combina com ele.

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  10. Ah! O Art é perfeito para a Ani. Fica impossível não gostar do jeito dele com ela.
    Saiba que também lamento pelo Evandro, mas acho que Anita nunca foi a mulher certa para ele. E precisa de alguém que tenha ele como principal objetivo.
    Acho que o jeito de se vestir até combina com ele, mas não com a Ani ou com a visão da irmã! rsrsrsrsrsrsrsrs

    bjosmil! *.*

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