sábado, 11 de dezembro de 2010

Mudanças

Dormi por toda a noite com a sensação de ser amada e protegida, foi reconfortante após os últimos acontecimentos. Ao relembrar dos fatos da noite passada, eu me senti zonza e me agarrei ao Arthur para não cair. Nosso abraço foi o mais longo da minha existência. Desejava manter o conforto de seus braços, contudo era importante resgatar minha independência novamente.


Mesmo assim, tive dificuldades de soltá-lo. Fiquei ali por segundos eternos com minha mão pousada sobre o seu ombro, nós evitávamos uma separação. Com uma troca de olhares nos comunicamos, sem usar qualquer palavra. De acordo com meu desejo ele pegou algumas peças de roupa e saiu garantindo minha privacidade para trocar-me.


A vergonha pesa em meu coração, como se na sua ausência a realidade da traição do Evandro ficasse mais vívida. Não conseguia vivenciar a intensidade dos sentimentos provocados pelo Art com alegria e contentamento. Existia a sombra do ex-namorado, a sensação de frustração por ser iludida e a culpa por estar apreciando a amabilidade do meu amigo.


Nestas horas o melhor é ser prático, fazer as tarefas do dia a dia sem me prender aos pensamentos e sentimentos de derrota. Então, retirei minhas roupas da cômoda e as vesti. Estavam impregnadas com o mesmo perfume de eucalipto e pinho a me envolver por toda a noite. Quando sai do seu quarto, ele estava na porta me esperando.


Eu lhe agradeci e pedi desculpas. Entretanto o Art não me deixou terminar a sentença e disse: “Cada minuto passado ao seu lado é um prazer para mim, anjo! Não precisa agradecer ou se desculpar.” Depois disto, eu apenas me despedi. Não havia espaço para comentar mais nada, eu ainda não estava pronta para o próximo passo. Precisava afastar o fantasma do Evandro de minha mente, emoções e corpo. Recuperar o meu verdadeiro eu.


Desci e entrei no meu quarto com os olhos semicerrados... Sem muita coragem para olhar para aquele cômodo, palco do meu amor unilateral, onde me deixei seduzir, imaginando ter encontrado o homem da minha vida. Ao descerrar as pálpebras, meus sentimentos eram de raiva por me sentir tão usada a ponto de me revoltar com o meu próprio aposento. Raiva de mim mesma por me deixar enganar.


Como mal podia olhar para a cama sem me sentir ultrajada, peguei uma muda de roupa e fui para o banheiro. Tomei um banho demorado, não só para limpar o meu corpo, mas para purificar e expurgar a dor da traição. Deixei a água escorrer sobre a minha pele e varrer cada sentimento de dor, raiva, autocomiseração e autopunição. Eu precisava sentir-me inteira novamente!


Ao término, me olhei no espelho e descobri uma coisa muito importante, eu não era mais uma menina. Usava sempre o mesmo penteado, o mesmo cordão, a mesma maquiagem temendo errar, escondendo de mim mesma o meu desenvolvimento. Precisava aprender a modificar minha imagem e ousar mais, ser uma mulher em toda acepção da palavra.


Prendi meu cabelo no alto com dois prendedores, troquei meus adornos e coloquei um batom diferente, só esta pequena mudança me preencheu de satisfação. Voltei para o quarto determinada a me livrar de todas as lembranças remanescentes do Evandro. Trocar a roupa de cama e os travesseiros era apenas o começo. Desejava transformar tudo, móveis e papéis de parede, fazer o meu aposento ter uma aparência tão agradável quanto o do Arthur.


Enquanto retirava os lençóis, o Art adentrou e me perguntou se eu precisava de ajuda. Comentei sobre a minha pretensão de reformar tudo, colocar uma nova cor na parede e novos móveis, contudo não sabia como começar. Ele tomou para si a tarefa e afirmou saber exatamente como me ajudar, eu só precisava escolher as cores.


Pegou o celular, apertou um ou dois botões olhando para mim e disse: “Meu pai é arquiteto.” Como se esta frase explicasse tudo. Pude entender apenas parte da conversa, era sobre o meu cômodo ser idêntico ao seu. Ao desligar, Arthur me levou até o seu quarto, para ver os catálogos de mobiliário e papéis de parede em seu computador.


Subimos rapidamente, fiquei fascinada com as possibilidades a se abrirem a minha frente, na tela do seu notebook. Ele sugeriu uma linha muito bonita e simples para os móveis. Explicou estarem no depósito do escritório de seu pai e por isso poderiam ser entregues e montados no mesmo dia. Eu amei sua sugestão e acatei.


Após resolver todos os detalhes, ele ligou para sua casa novamente e me ajudou a encaixotar meus pertences. Os operários chegariam em breve para retirar a mobília antiga, montar a nova e colocar o papel de parede. Segundo o meu amigo, no final da tarde tudo estaria pronto.


Art se ofereceu para recepcionar e levar os operários ao meu quarto, pois já os conhecia. Disse ser melhor eu ficar distante enquanto eles trabalhavam. Perguntei-me se ele era tão ciumento quanto o Evandro. Contudo nosso relacionamento não era amoroso, nem estávamos juntos, provavelmente foi apenas por cavalheirismo, algo inerente ao seu modo de ser.


Peguei meu instrumento e fui para o segundo andar, eu precisava terminar a música para o final do semestre. Fui escalada para a apresentação do Festival da Primavera e poderia tocar uma das minhas composições, se aperfeiçoasse alguns detalhes. O arranjo deveria estar perfeito até final de novembro para receber a aprovação do meu professor.


Como sempre, o violino tem o poder de me libertar. Acabei por criar alguns novos acordes para a melodia. Ainda vou ter muito trabalho pela frente, porém consegui expressar toda a minha dor e recusa em aceitar o meu fracasso. Isto me ajudou a compreender a profundidade dos meus sentimentos: a minha tendência a me diminuir e culpar.


Eu estava tocando por mais de uma hora quando Arthur se juntou a mim. Não resisti e sorri para ele. A nossa conexão através do som foi instantânea, profunda e intensa. Nós sempre entrávamos em uma sintonia singular enquanto eu executava minha música interior. De alguma forma havia um encontro de almas, ele tinha o poder de sustentar e alimentar a minha inspiração. Eu entrava num estado pleno de harmonia, não só com a melodia e o meu amigo, mas com todo o Universo.


Ao finalizar a minha prática, um dos operários veio falar com o Art. Devolvi o violino para o suporte e ele olhou para mim dizendo já estar tudo pronto. Mal acreditei, em quatro horas, o meu quarto foi completamente remodelado. Ao entrar, fiquei emocionada com as mudanças. Uma enorme variedade de almofadas sobre a minha cama me seduziu, assim como o jarro com flores em cima da escrivaninha branca. Eram detalhes inesperados, pois não havia planejado a decoração.


O painel com uma árvore florida na parede esquerda deu um toque especial ao ambiente, delicado e feminino. Estava admirando o visual vibrante proporcionado pelas cores verde, branco e lilás a predominarem no cômodo, quando o Arthur passou pela porta. Eu agradeci entusiasmada, nem podia acreditar no quanto ele fez por mim nas últimas horas: salvou-me de uma bebedeira, me amparou durante a noite, expulsou o Evandro, me poupando do esforço e ainda redecorou todo o meu quarto.


Sem dar espaço a ele para me contestar, o abracei e disse o quanto estava grata por sua amizade e paciência comigo. Ele não resistiu e deu a última palavra: “Se você não estivesse aqui quando cheguei, nem sei se aguentaria estudar nesta cidade onde o inverno não tem fim. Você aquece meu coração, anjo.”


Afastei-me intrigada com aquela resposta. Art estava sempre dizendo o quanto eu era importante em sua vida e de certa forma me sentia cobrada a lhe corresponder. Embora a atração entre nós fosse palpável, eu não sei se era a melhor hora para começar um novo relacionamento. Eu realmente preciso resgatar minha independência primeiro, ou será o contrário, aprender a depender de outra pessoa?


Quando ele saiu, deitei sobre a minha nova cama procurando soluções para o meu conflito. Arthur era irresistível, sua presença era marcante, mesmo distante sentia-me envolvida por sua aura de luz. Isto me deixa totalmente atordoada e apavorada. Eu estava com medo de me machucar novamente. E se ele ainda fosse pior que o Evandro e estivesse fazendo o mesmo tipo de jogo? Não suportaria ter meu coração dilacerado novamente.


Resolvi não me lamentar mais, precisava encarar tudo com coragem e encerrar o ciclo com o ex-namorado de uma vez por todas. Talvez necessitasse de uma ajuda celestial para me transformar e descobrir quem de fato é a Anita. Precisava recompor as peças e me encaixar novamente no mundo, começaria cuidando das coisas triviais como as minhas roupas e pertences. Assim poderia abrir um espaço essencial para colocar minha mente em ordem.


À noite a Francisca ligou e insistiu para nos encontrarmos no Três Pinheiros. Provavelmente, pretendia consolar-me com uma balada. Quando cheguei, queria saber como eu estava, me interrogando exaustivamente sobre como me senti na noite anterior. Respondi o inevitável, apesar de toda dor pungente em meu ser, eu estava conformada.


Sentamos junto ao bar e percebi algum incomum, normalmente ela usa uma maquiagem leve e desta vez estava mais intensa que o normal, uma mudança drástica em sua aparência. Ela insistiu em saber mais sobre a noite anterior e não notei aonde desejava chegar com suas perguntas. Foi direto ao ponto e comentou: “Fiquei sabendo que você dormiu no quarto de um ‘nerd’ ontem à noite... E aí, já está de namorado novo?”


Eu fiquei estarrecida, só duas pessoas sabiam aonde eu pernoitei, o Evandro e o Art. Aquilo me preocupou, não tinha ideia de como conseguiu esta informação. Percebendo minha confusão esclareceu tudo. Quando voltou para o alojamento naquela manhã o ex-namorado espalhou a história para quem quisesse ouvir. Ele estava tentando denegrir minha imagem e assim explicar seu erro.


Mal consegui engolir a sordidez do caso, até perceber o Arthur parado atrás de mim. Como um anjo protetor, apareceu em um momento inusitado e delicado. Fiquei entusiasmada com a sua presença, me sinto segura e confiante ao seu lado, embora minha mente hesite em aceitar estas sensações.


Eu os apresentei e expliquei ter sido ele a me resgatar de uma bebedeira e praticamente me carregar para casa, na noite anterior. Eles trocaram dois beijinhos, e por um instante não gostei de vê-los tão próximos. Principalmente quando ela começou a flertar com o Arthur. Fiquei sem saber como agir e esperando o pior da parte dele.


Contudo, não entrou em seu flerte e a afastou de modo educado. Obviamente, não iria se envolver com ela na minha frente. Estava revoltada com a atitude da Fran. Meu olhar com certeza demonstrava minha irritação e indignação. Entretanto nunca comentei com ela meu apreço por ele. Não poderia culpá-la por se sentir tão atraída quanto eu.


Ela se aproximou do meu ouvido e falou: “Pode não ter acontecido nada entre vocês ontem à noite, porém não me resta dúvidas, você está interessada nele sim. Ou não teria se irritado tanto com um simples flerte! Ele também parece interessado em você.”Não compreendi sua atitude irreverente, estava desconsertada com a situação. Despedi-me rapidamente e sai acompanhada pelo Arthur.


Voltamos em passos lentos, de mãos dadas, sem pronunciar uma palavra. A tensão entre nós era intensa e profunda. Em frente a minha porta ele parecia não querer largar minha mão e perguntou se eu estava bem. Como se esperasse um convite, fez um carinho em meu rosto e fiquei tentada a ceder ao meu impulso de me atirar em seus braços.


Contudo não eu estava preparada para dar o primeiro passo. Ainda tenho o gosto amargo da traição dentro da boca, me ressinto por ter vivenciado um engodo e não consigo absorver toda a repercussão das fofocas impingidas pelo Evandro. Decidi apenas o abraçar. Deixaria rastros do seu perfume em meu corpo, assim eu poderia dormir conformada com a ausência dos seus braços ao meu redor.


Ao me deitar, pensava o quanto foi difícil não me entregar ao poder de atração do qual era vítima. De qualquer forma eu sabia... Não iria resistir por muito tempo. Entretanto adiava esta inevitabilidade, não só porque eu precisava curar-me e lamber as feridas, principalmente porque eu tinha muito medo de me envolver novamente.


Na manhã seguinte eu encontrei o Reynaldo sozinho no refeitório e me sentei a sua mesa vazia para fazer o meu desjejum. Ultimamente meu amigo dorme praticamente todas as noites aqui no alojamento, o namoro com a Tânia está indo muito bem e eles parecem ainda mais apaixonados.


Mal eu me acomodei e ele pediu desculpas por não estar prestando atenção nos acontecimentos do seu prédio, se soubesse de algo me alertaria. Por um instante fiquei atônita. Quase não dormi, imaginando se o beijo do Art seria tão delicioso quanto no meu sonho, meus pensamentos estavam voltados para ele. No entanto, precisava recompor-me, meu amigo citava a traição do Evandro.


Eu o tranquilizei, afinal, um namorado deveria manter-se fiel independente de qualquer vigilância. Aproveitei o ensejo para sondar sobre o comentário da Francisca na noite anterior, queria saber o tipo de falatório a meu respeito. Comentei, sem especificar nada e esperando alguns esclarecimentos: “Francisca contou algo sobre ele denegrir minha imagem.”


Reynaldo falou: “Ai, Ani! Eu, se fosse você não daria muito ouvido a Francisca, não! Eu percebi uns olhares dela para o Evandro, muito antes do seu namoro. Ele não abriu a boca para falar de você. Na verdade está arrasado. Diz que foi um idiota por te perder, e agora é tarde demais!”


Expus minha percepção, o ex-namorado não iria falar mal de mim para um amigo meu. Contudo, ele fez questão de afirmar sobre ter sido um colega em comum a comentar a tristeza do Evandro com a separação, continua muito apaixonado apesar do seu erro. Estranhei, pois na manhã passada, ele parecia muito irritado e nada apaixonado. Entretanto poderia ser seu ciúme descontrolado a falar por ele, não seria a primeira vez...


Pretendia tirar mais algumas dúvidas, todavia a Tânia chegou perguntando como eu estava e se precisava de alguma coisa. Não estava com vontade de conversar sobre minha confusão, principalmente na frente do Reynaldo. Eu havia terminado minha refeição, por isso apenas agradeci pela gentileza dizendo estar conformada e me retirei.


Era um dia especial, comemoraria o aniversário dos meus pais. Como nasceram com apenas alguns dias de diferença, resolvemos reunir a família em uma única data, apenas nós três. Combinamos passar juntos o domingo, na casa do papai. Peguei os presentes em cima da cama e pretendia esquecer minhas dificuldades para demonstrar toda a felicidade a qual eles mereciam.


Cheguei cedo com a intenção de ajudá-los com os preparativos para o almoço. Quando mamãe abriu a porta o aroma de bolo impregnava toda a casa. Seu sorriso estava radiante, não aparentava os seus trinta e quatro anos, completos naquele dia. Entreguei seus presentes e me deixei contagiar por sua felicidade.


A sobremesa estava pronta em cima do balcão e notei a tábua com alguns legumes cortados ao lado. Como não vi meu pai em parte alguma estava prestes a perguntar por ele. Anne percebeu minha questão antes de pronunciá-la e disse que estava colhendo algumas frutas para fazer um suco para nós.


Questionei como poderia ajudar com o almoço e ela me surpreendeu dizendo: “Toque para mim. Trouxe o violino, está no lugar onde o seu costumava ficar.” Eu fiz a sua vontade e de certa forma, também era a minha, mesmo sabendo o quanto iria passar das minhas emoções para a música. Ela compreenderia tudo, mais cedo ou mais tarde.


Papai entrou pouco depois e ficou sentado de frente para mim, admirando minha nova canção. Enquanto mamãe cozinhava mais um de seus pratos exóticos e desta vez sua paella de frutos do mar perfumava todo o ar. Perdi o andamento e a concentração algumas vezes, distraída pelos aromas apetitosos a se fundirem a nossa volta.


Na hora do almoço deixei o violino em seu suporte e me uni aos dois no balcão. Meu pai olhou diretamente para mim e declarou: “Eu estou me mudando para a casa da Anne amanhã. Esta é nossa despedida desta casa. Sua mãe gostaria de saber se vai querer ficar com ela, quer comprar e passar para o seu nome.”


Eu nem sabia como responder, afinal o aniversário era deles. Mamãe estava apreensiva, por isso deixou o Anacleto falar, demorei alguns segundos para aceitar a oferta. Anne ficou melindrada com minha hesitação, achando estar comprando um bem muito insignificante, perto da sua fortuna. Acreditava ser importante preservar o lugar onde vivi a maior parte da minha vida.


Ela tinha razão, eu gostaria de manter os vínculos com a casa, contudo nunca imaginei usufruir do seu dinheiro, minha bolsa me deixava em uma situação confortável financeiramente. No futuro esperava sustentar-me com a música. Eu nunca fui boa em esconder meus sentimentos ou com mentiras. Era hora de deixar claro o meu tormento, o motivo para minha hesitação: o término do meu namoro de sete meses.


Meu pai expressou sua incompreensão e insatisfação: “Como o ‘florzinha’ pôde terminar com você? Se ele pensa que vai encontrar mulher mais bonita, sensível e inteligente, está muito enganado! Só pode ter saído do armário!” Sorri com sua indignação e resolvi não comentar nada sobre a traição. Provavelmente ele iria tirar satisfações com o Evandro se soubesse de tudo.


Quando o almoço terminou, mamãe perguntou o que estava acontecendo. Na sexta-feira, saí de sua casa animada e agora descobria sobre o meu rompimento. Como estávamos sozinhas na sala, expliquei tudo. Contei da traição, como encontrei uma garota sentada em seu colo no salão do seu alojamento e toda a minha humilhação. Não saberia descrever minha situação com o Arthur e por isso preferi omiti-la.


Minha mãe ficou revoltada: “Como ele pôde agir de forma tão vil com uma mulher tão sensível e adorável quanto você?” Finalmente assumi o meu sentimento de culpa, eu estava atraída pelo Art há meses. Ele provavelmente percebeu as motivações do meu distanciamento e por fim se atirou nos braços de outra. Eu nem sabia mais no quê acreditar, a conversa com o Reynaldo pela manhã confundiu a minha mente.


Anne cortou rapidamente a minha tendência a me culpar pelo erro dos outros. Comentou ser natural sentirmos atração por outra pessoa, afinal faz parte da vida, existem muitas pessoas tão interessantes quanto os nossos parceiros. Falou da importância do que fazemos em relação a estes sentimentos e como utilizamos este aprendizado, lidamos com os conflitos para fortalecer um relacionamento. Ele errou, não soube enfrentar a situação, e a culpa não era minha.


Eu estava muito aflita, essencialmente em relação ao Arthur. Expliquei o quanto estava apavorada com a ideia de entrar num relacionamento novamente. Sentia muita vontade de mergulhar de encontro a atração entre nós, porém as dúvidas e os medos me afastavam. Mamãe me consolou observando uma verdade incontestável: “O medo foi feito para nossa superação, não o ignore, vença-o!”


Eu a abracei mais calma, mas suas palavras vibravam em meu interior: ”vença-o!”
Passamos uma tarde muito agradável ao ar livre, aproveitando o sol de inverno filtrado pelas folhas das árvores, após o almoço. Nós três construíamos laços ainda mais fortes. Saber da força emanando da minha família, tornava meu ser mais disposto a enfrentar as vicissitudes em minha vida.


Ao anoitecer voltei para a universidade e encontrei o Art abraçando uma criança na porta do único restaurante de Colina Formosa. Como sempre ele olhou na minha direção em questão de segundos, por isso acredito haver um imenso magnetismo entre nós. Ao me ver, se aproximou dizendo estar feliz por me encontrar ali, principalmente por poder me apresentar a sua família. Eu nem poderia recusar seu pedido depois da ajuda prestada pelo seu pai com o meu quarto.


Cumprimentei o senhor de meia-idade, idêntico ao filho, exceto pela calvície pronunciada e algumas marcas sugerindo sua maturidade. Agradeci pelo seu auxílio no dia anterior, afinal foi ele quem mandou os operários e escolheu cada detalhe lindo do meu quarto. O Sr. Eduardo respondeu que faria isto por qualquer amigo do filho, principalmente uma jovem tão bonita quanto eu. Não soube como responder ao elogio. Entretanto o Arthur me salvou apresentando a sua mãe.


Depois de me dar dois beijinhos, uma bela senhora de olhos cor de mel e cabelos castanhos me disse o quanto estava ansiosa para me conhecer. Anaïs era muito sociável e disse ser amiga da minha mãe, todavia ficou sabendo da nossa ligação há pouco tempo, quando o filho contou o passado da Anne como roqueira. Lembrei da mamãe ter mencionado esta nova amiga, menos de um mês após a sua chegada à Colina Formosa. Vivemos em uma cidade muito pequena afinal!


A Júlia me abraçou em seguida, estava feliz por me ver novamente. Queria convidar-me para conhecer a sua casa. Eu agradeci, no entanto não deveria aceitar o convite de uma adolescente em meio a tantos adultos. Contudo recebi murmúrios de todos a volta confirmando o desejo de me receber. Não sei se é a hora certa para isto e resolvi aceitar sem mencionar uma data.


A pequena Abigail, cópia em miniatura da mãe, veio com um “toca aí”, para me cumprimentar. Eu mal tive tempo de me abaixar para que acertasse a minha mão. Ela admirou a minha tez “translúcida” e falou o quanto a minha beleza era perfeita. Queria saber se eu não era nenhuma vampira. Muito fofa e esperta a pequena!


Respondi ter certeza de não ser uma vampira. Eu me alimentava com comida de verdade e precisava dormir como todo mundo. Embora minha tez clara não permitisse muito tempo de exposição ao sol, podia sair de casa durante o dia. Parecia realmente preocupada, não gostava da ideia do irmão estar hipnotizado por um ser imortal, mas acreditou na minha resposta e abriu espaço para o Art.


Ele estava se despedindo da família quando cheguei e me perguntou se poderia acompanhar-me até o alojamento. Meu coração disparou, lembrei da minha mãe dizendo: “vença-o!” Era hora de enfrentar meus medos e o Universo parece empurrar-me de encontro ao Arthur, tornando impossível contrariar esta força. Estava na hora de ceder.


Começamos a caminhar e ele suspirou alto, me deixando assustada. Eu tremia de antecipação, se ele fizesse um movimento na minha direção eu iria aceitar. Desta vez eu acataria seus avanços, precisava sentir seus lábios nos meus, eliminar meus receios e saciar meus anseios.


Quando o Arthur pegou a minha mão, para continuar a caminhada, eu praticamente gelei. Nossos olhares se cruzaram e sorrimos um para o outro. Por um instante me perguntei se ele iria beijar-me na frente da sua família. Eles ainda estavam muito próximos. Meu coração batia em completo descompasso, cada célula do meu corpo vibrava como se fosse explodir. Eu o desejava profundamente.

15 comentários:

  1. Anacleeeto sz
    Abigail é uma gracinha e a parte do vampiro! rs'.

    Acho que a parte da insegurança de um novo relacionamento da Anita é uma coisa completamente comum, pois namoro é legal até você sentir a dor que ele pode lhe causar. Francisca, humpf! . Evandro, se fazendo de vitima .___.'

    Beijos. Atualização peerfeita *-*

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  2. Ah, esse Arth é um gentleman mesmo *--* Acho q ele é o sim mais gentil q eu conheci S2
    Own a Roxanne sempre aconselhando a filha *-* Arth querendo q ela conhecesse a familia... E q familia linda!!

    Aquela Francisca... entre o comentario dela e do Reynaldo, ele é amigo a mais tempo, isso tem q valer alguma coisa, não é? XD

    Os dois se olhando daquele jeito, da pra sentir o clima.

    As atuhs estão cada vez mais lindas e emocionantes *--* Adoroooooo!!!


    Bjos Mita S2

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  3. Own! Uma mãe como a Anne sempre tem algo bom a dizer, não é? *---*

    Cara, que difícil, em que se acredita nestas horas? As informações truncadas, desconexas...
    E estaria perdida como cego em tiroteio. -.-"

    É isso aí, Ani! Hora de vencer o medo! Bola pra frente, que o jogo é de campeonato!

    AMO!

    ..: Bjks :..

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  4. AH!!! Essa atuh foi tão gostosa e acabou tão rapido!
    Tenho tanta dificuldade em escrever o que sinto em relação a história, e sinto muito por isso. Deve ser pq mexe com a minha alma de uma maneira que não consigo explicar s2
    Me emociono demais e amo demais Anita.
    Atuh perfeita.

    Beijos flor... ;*

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  5. Quanto tempo que eu não comento o_O
    Aiin, o Art é um fofo, e a Roxanne também - uma ótima mãe ^^.
    Amei a atu *-*

    Beeijos

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  6. A verdade toda a gente nunca vai saber, né? O que se passou com o Evandro, as histórias da Francisca... Só podemos deduzir junto com a Anita. Aos poucos ela vai tirando sua própria conclusão, até lá, sua atração pelo Art tá vencendo... E vocês sabem no que isso vai dar! rsrsrsrsrsrsrsrsrs

    Nandha,
    A Abby é uma fofa, como disse a Anita, cheia de vida e imaginação fértil. Uma criança saudável e feliz.

    Deh,
    O Art é exatamente como a Anita diz: surreal! Seu jeito de ser é explicado pelo tipo de família que tem: criado com muito amor e união.
    Roxie sempre tem conselhos maravilhosos para filha, né?

    Pah,
    Acho que Anne vivenciou muita coisa e aprendeu a acreditar em si mesma para superar seus obstáculos e isto a tornou uma mulher forte, que por sorte não perdeu sua sensibilidade no trajeto.

    Carol,
    Fico feliz e honrada que Anita fale a sua alma. Acho que é por isso que amo esta história, ela faz parte da minha alma. Saber que posso tocá-la de forma profunda assim... Me emociona e alegra.

    Letícia!
    Há quanto tempo.
    Fico feliz que esteja amando estes momentos!
    Realmente, Anne e Art trouxeram algo mais para a vida da Anita. *--*


    Obrigada meninas, pelo carinho, elogios e experiências trocadas por aqui. Aprendo muito com seus comentários, sobre vocês, sobre mim mesma e a responsabilidade de escrever para vocês.

    bjosmil! *.*

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  7. Mita tinhas razão! A Abigail é coisa mais adorável e fofa que já vi! E essa da vampira me conquistou ª.ª

    Eu nem sei em que acreditar, mas tou mais virada para o Reynaldo, afinal ele emana mais confiança que a Fran rsrsrsrsrs

    O Art está cada vez melhor *.* Tão gentil e tão paciente... Quero um pra mim Ç.Ç

    Bjs

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  8. mmoedinhas,
    Esta intriga e traição ainda tem seu espaço... Espere mais um pouco e verá! rsrsrsrsrsrsrs
    Na primeira versão a Abby citava o Crepúsculo, mas em 1998 a história ainda não havia sido publicada, então só falei de vampiros mesmo! XD
    É difícil encontrar um assim... Cavalheiros estão em extinção.

    Obrigada pela presença constante!
    bjosmil! *.*

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  9. Miita, sua musa que inspira minha criatividade: Estou de volta!
    Ah, como é reconfortante falar com você de novo, e ler mais desta história... :D
    Estou adorando tudo! Mas tenho uma crítica lúdica: PARAR NESSA PARTE É SA-CA-NA-GEM! Ainda mais agora que voltei (pra ficar!) e acompanhar sempre está história di-vi-na, e quero tanto que a Anita fique com o Art... Ele é tão lindo, perfeito, educado, atencioso, perfeito, legal, perfeito... Uih, eu quero um Art pra mim Carmitaa... *-*
    Sempre olhei torto pro Evandro, e agora olho de cabeça pra baixo! Tá que ele era fofo com a Ani, maaaaasss odeeio garotos que deixam o ciúme apoderar-se de seu ser (wow, que frase macabra) e o Evandro deixava-se consumir pelo ciúme, isto é terrível. Bom, obrigada e parabéns pela linda história, te admiro muito Mita. Beijooos!

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  10. Fiquei feliz com seu retorno, isso quer dizer que passou de ano e está de férias?
    Parei na melhor parte, é? rsrsrsrsrsrsrsrs
    Agora acho que isso vai acontecer com mais frequência... Ah! Será que ela fica com o Art? Vamos ver no sábado!
    Evandro realmente é um cara muito ciumento. Mas é um tipo bem comum, conheço muitos assim!
    Obrigada, fico muito lisonjeada com suas palvras. =$
    bjosmil! *.*

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  11. -haha, É verdade Mita, eu realmente passei (UFA!) (de raspão, haha, brincadeira ^-^)
    Hum, está pensando em deixar este romance com mais cara de suspense é? Eu falo assim, mas eu ADORO um suspense!
    :D É muito bom estar aqui de volta, falando com você!
    Bjosss

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  12. Adorei a Abigail! Ela pensar que a Ani era uma vampira foi ótima! hauahuahauha
    Que massa os pais fazerem aniversários perto! A festa fica uma só, adorei!
    É o quarto da Ani ficou show! Que bom que ela fez essa mudança, pelo menos tenta espantar o fantasma chamado Evandro!
    Agora só falta o tão sonhado beijo da Ani e do Art! Quero ver! hauahuahauha
    bjos, filha do meu coração!
    Te amo!

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  13. Biah,
    Fico feliz que tenha passado! :]
    Na realidade nem vai ter tanto suspense no romance... Mas nas decisões e que ela vai precisar tomar mais adiante.
    É bom poder falar com você de novo!

    Mile,
    Abby é ótima, eu adoro aquela fofura. Os pais da Ani nasceram no mesmo ano com alguns dias de diferença. Eu tenho um primo assim, eu nasci dia treze e ele dia dezoito. E também um casal de amigos na mesma situação.
    Fico feliz que tenha gostado do quarto, me (leia Sr. Eduardo, rsrsrsrsrsrs)empenhei para que ficasse bonito como a Ani merece.
    Será que veremos no sábado? huahuahuauhs
    Obrigada mãezinha querida!

    bjosmil! *.*

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  14. Aff!! Evandro só piora as coisas.

    E odeio me entregar tanto ao personagem de leitura...
    Pq me sinto uma maluca, quando ela diz algo e sinto o mesmo. ><"
    Tb não quero aceitar que o Art é bom pra Ani. çç'

    AHHHH!!!
    Evandroooo!!!
    Então era mentira da Fran! *----*
    Você está sofrendo e arrependido... *w*
    Ele não mentiu sempre!! Tem mesmo um coração!! \õ/
    Ahhh!! Me sinto melhor agora!!

    Foram sete meses de namoro? Ani... Evandro... TT"
    Pois é... Muito estranho essa atitude do Evandro assim do nada.
    Ele sempre foi perceptivo quanto a Ani. Faz sentido seus possíveis motivos, mesmo que não tenha como justificá-los de qualquer forma. .-.
    Rox tb tem palavras tão boas...

    Que graça a irmã mais nova do Art! kkkkkkkk.

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  15. É, não se pode acreditar em tudo os que os outros afirmam... E nem sempre no que vemos! O.o
    Acho que Ani não se magoaria tanto se não o visse beijando outra e acho que ela não agiu corretamente com ele tb. Um erro não justifica o outro, mas podemos entender melhor como tudo se passou.
    Rox é uma mulher que aprendeu muito com a vida. A pequena Abby é uma fofa completa!

    bjosmil!*.*

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